Tem uma beleza esplêndida a tristeza, a solidão e a melancolia quando viram literatura... elas conseguiram se tornar alguma coisa e não ficaram presas em alguém

terça-feira, 6 de maio de 2008


Logo pela manhã invadiu sua mente aquele pensamento, novamente aquele pensamento.
Fez um café amargo e sentou-se a mesa na tentativa de fingir tranqüilidade (a TV ligada dizia a previsão do tempo, mas aquele som televisivo flutuava sem destino), procurou seus cigarros, as mãos trêmulas tatearam todos os bolsos, no entanto, nada encontraram.
-Que merda!
Odiava não ter cigarros. Pegou as chaves, a carteira, vestiu um casaco e saiu deixando que a porta gritasse em seu lugar. Tinha que descer quinze andares e nenhum dos cinco malditos elevadores chegavam. ESPERAR É SEMPRE UMA ETERNIDADE. Já havia cantarolado umas dez musiquinhas e nada de elevador. Se tivesse cigarros já teria fumado dois seguidamente. Essa contemporaneidade trás uma ansiedade infernal.
-Ah finalmente!
Nossa! Assustou quando abriu a porta e olhou-se no espelho.
-Caralho! Que cara é essa?
Ajeitou a sobrancelha e passou as mãos nos cabelos recompondo um pouco sua aparência.
-Como sou trivial!
A porta se abre, suas pernas caminham automaticamente, seguem aquele percurso de uma quadra de distância rumo a tabacaria. Engraçado, hoje o ar estava diferente. O vento estava mais forte e mais frio. Por quase um segundo teve uma sensação estranha, foi como se estivesse em outro lugar...
-Ajude-me por favor, ajude-me, ajude-me...
Essas palavras interromperam o devaneio.
Uma velha louca sempre clamava por ajuda, sentada na rua, afundada em derrota, com seus olhos de tristeza. Mas pouco importava, sequer olhou, apenas seguiu.
-Bom dia! O que deseja?
-De-me dois ?????????????????
Rapidamente abriu o maço e acendeu o cigarro, deu-lhe uma boa tragada.
Ahhhh, agora sim poderia começar o dia.
Imaginava a fumaça preenchendo todos os vazios de sua vida e por esse tempo mínimo lhe vinha uma tranqüilidade tão boa.
Hoje não iria trabalhar. Não. Hoje não daria àqueles filhos da puta o gostinho de lhe ver infeliz.
Ahhh hoje queria dar um dia diferente. Chega dessa mesmice.
Mas o que fazer?
Olhou a agenda do celular, tantos nomes, tantos números, ninguém que quisesse falar.
Acendeu um cigarro.
Por tanto tempo esteve em busca da felicidade e quando ela realmente aparecia, nunca sabia como mantê-la. Alcançou tantos sonhos, isso era motivo de felicidade, mas sempre falta alguma coisa e sempre continuará faltando. Talvez seja isso o que nos mantém vivos: esse desejo de encontrar o que nos falta, o dia em que não nos faltar nada não precisaremos nem nos mover, estagnaremos, perderemos a vontade, seremos como mortos.
Hoje amanhecera sentindo um falta excessiva. Na sua cabeça latejava o pensamento de que deixara que se perdesse o que realmente era precioso...
Mas o que fazer?
Há coisas que não voltam
O que poderia construir por agora?
Que peças tem em mãos para tampar os buracos?
Ainda tinha um dia inteiro pela frente... com certeza precisaria de mais cigarros

Um comentário:

º.::calebitto::.º disse...

Uau! De tirar o fôlego!

A cascata de acontecimentos, intercalados por pensamentos e ações, me fez vibrar! Acho que você escreve com muita maturidade e consegue muito bem atingir a fantasia imaginária de cada um de nós.

Ai nega... adoro seus textos!
A melhor parte é quando você cita as percepções da personagem, de como ela sente e vê tudo ao seu redor! Realmente, magnífico!

Recebi seu e-mail! Ficou perfeito! Perfeito! Você, como sempre linda de morrer! =D

Depois, quando você tiver on line, quero te passar as fotos do pique-nique pelo msn, porque não cabe anexado no e-mail.

Um forte abraço! Te amooooo!

=]