Tem uma beleza esplêndida a tristeza, a solidão e a melancolia quando viram literatura... elas conseguiram se tornar alguma coisa e não ficaram presas em alguém

sexta-feira, 3 de agosto de 2012


Brincava com uma mecha de cabelo enquanto esperava que lhe trouxessem seu cappuccino com dois saches de açúcar. Hoje estava cheio aquele lugar, algo não rotineiro. Só não tão cheio quanto seus pensamentos. O cappuccino demorava mais que o normal e não podia evitar reparar nas pessoas ao redor, nas expressões, nos gestos, nas manias.  A senhora ao lado pediu uma torta de morango e um café descafeinado, ligou seu ipod [que música estaria escutando? ...ainda me soa estranho uma senhora com um ipod] sua feição era indecifrável; sutilmente retirou da bolsa um caderno e uma caneta esferográfica negra. Escrevia ou des...

- Senhorita seu cappuccino
-Obrigada, quanto te devo?
-4,60 senhorita
-Fique com o troco.
-Obrigado.

Tomou o primeiro gole, a senhora, o primeiro trago do seu cigarro. Era bem bonita, cabelos negros perfeitamente penteados, sobrancelha arqueada e bem feita, maquiagem sutil, unhas pintadas, uma postura incrível [quando eu chegar aos quarenta espero ser tão apresentável].
Não sabia por que olhava aquela senhora, por certo havia uma dezena de pessoas  que provavelmente lhe chamariam a atenção, mas era ela quem tinha o protagonismo do lugar.

Chegou o seu pedido: a torta e o café. Pagou. Deixou-os na mesa... ainda fumava. Seu olhar cruzou com o de Ana. Tragou novamente. Tinha um olhar profundo, algo que se assemelhava talvez aos mistérios do mar, calmaria e furor.

Ana disfarçou com um gole, foi uma sensação estranha. Como se afogasse.
Há quatro meses disse a si mesmo que não continuaria naquela historia, era uma loucura viver assim, oscilando entre paraíso e abismo. Havia chegado ao limite, não permitiria mais que lhe enganassem. Quis limpar tudo que lhe tampava os olhos, jogar fora os excessos, organizar valores... se sentia melhor por isso, mesmo cansada se sentia menos nada com a simples possibilidade de encontrar algo sólido. Mas estava ali, com um cappuccino e  um monte de sensações que não eram usuais... era bastante estranho esse impulso... essa vontade de não desviar os olhos daquela mulher...

O cigarro acabou, ela cortou um pedaço de sua torta e delicadamente o levou a boca, tinha os lábios carnudos e realmente bem desenhados, em seguida tomou um gole de café. Pegou o caderno e continuou a grafar. Olhou-a novamente. Provavelmente havia notado a maneira pouco discreta com que Ana a olhava. Deu um pequeno sorriso.

Ana ficou vermelha e com o coração acelerado. Não sabia o que fazer e um tanto quanto desajeitada tomou um gole de seu cappuccino, levantou-se e foi em direção a porta. Antes que cruzasse um garçom a parou rapidamente.

- Pediram que lhe entregasse.

Surpresa pegou o pedaço de papel dobrado, agradeceu, mas não abriu. Colocou no bolso e saiu.

Caminhou uma quadra pensando no que havia acontecido... se sentia estranha... um pouco idiota até... parou e respirou fundo. levou a mão ao bolso, retirou aquele papel e abriu, escrito com letra bonita havia um numero e um nome, o nome era Virginia.

by Jaquelinne Felizardo

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